Hoje é o dia de São Crispim e São Crispiniano. É também o aniversário da Batalha de Azincourt, a grande e milagrosa vitória dos britânicos liderados pelo Rei Henrique V contra os franceses, em 1415.
Na peça que Shakespeare escreveu sobre essa batalha, o ponto alto é o discurso que o rei faz logo antes da luta começar, e que é provavelmente o discurso mais famoso já escrito em inglês.
Em honra ao dia, compartilho com vocês a tradução que fiz desse discurso. (Não é o texto integral — segui o corte feito por Kenneth Branagh para seu filme Henrique V.)

Contexto: o exército britânico está em solo francês. Depois de uma campanha malsucedida, estão tentando voltar para a Inglaterra, doentes e exaustos. Porém, são alcançados pelos franceses. Logo antes de começar a batalha, os nobres ingleses discutem entre si, comentando que o inimigo está descansado e bem, e em esmagadora superioridade numérica. E o primo do rei suspira que gostaria de ter ali nesse momento os homens que ficaram na Inglaterra fazendo nada. Mas o rei ouve e responde:
Quem é que assim deseja? Meu primo Westmoreland? Não, meu bom primo: Se marcados p’ra morrer, bastamos nós De perda à nossa pátria; se p’ra viver Quão menos homens, maior quinhão de honra. Por Deus! Não queiras, peço, mais um homem! Antes proclama, Westmoreland, por minha hoste: Quem não tem ânimo p’ra esta luta, Pode partir; terá seu passaporte E na bolsa moedas p’ra viagem: Não queremos morrer na companhia De quem tem medo de morrer conosco. Este é o dia de São Crispiniano: Quem sobrevivê-lo e voltar a casa salvo Se erguerá bem alto ao ouvi-lo mencionado Inflamado pelo nome Crispiniano. Quem viver este dia e vir a sua velhice Na véspera, a cada ano, dará festa a seus vizinhos Dizendo: “Amanhã é São Crispiniano.” Então erguendo a manga, mostrará suas cicatrizes Dizendo: “Estas feridas recebi na São Crispim.” Os velhos esquecem; mas tudo já esquecido Ele lembrará sempre e muito bem, Seus feitos neste dia; e então os nossos nomes, Palavras em sua boca familiares, Harry o Rei, Bedford e Exeter, Warwick e Talbot, Salisbury e Gloucester Serão lembrados em copas espumantes. Esta história o pai contará a seu filho; E Crispim e Crispiniano não há de passar, Desde este dia até o fim do mundo, Sem que nele sejamos nós lembrados; Nós poucos, felizes poucos, bando de irmãos; Pois quem verter o sangue hoje comigo É meu irmão; e por plebeu que fôra Este dia o há de enobrecer: E os nobres na Inglaterra, que agora estão na cama — Julgar-se-ão malditos que aqui não estiveram — Sentindo-se menos homens do que o homem que disser Que lutou conosco no dia de São Crispim.
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Gosta de discursos de guerra? Confira este famoso discurso do patriota americano Patrick Henry.
Excelente !
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A tradução é sua? Ficou muito bom!
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Sim, fui eu que traduzi 🙂 Fico muito feliz que tenha gostado… é um discurso ímpar mesmo. Se você ainda não assistiu o filme do Kenneth Branagh, recomendo vivamente. É considerado uma das três melhores adaptações de peças do Shakespeare jamais feitas para o cinema.
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Prefiro a versão do Olivier. Já assistiu?
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Não, nunca. Mas agora acho que terei de vê-la 🙂 (Apesar de que sua opinião é um pouco suspeita, já que provavelmente você tem uma simpatia especial pelo Olivier porque ele tem o seu nome 😉 )
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Se puder me seguir no Instagram, ficaria honrado. Gosto de conversar conversar sobre isso. Malba Tahan! Tesouro da Juventude (pensei que fosse a enciclopédia)…
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Absolutely! Diga-me lá qual é sua página e ganha uma seguidora (ainda que não use muito o Instagram)
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eulernaper2718
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Mandei pra ti por e-mail.
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