Nenhum irlandês gosta de ser chamado de inglês, mas um nacionalista como William Butler Yeats (1865 – 1939) provavelmente trucidaria quem o fizesse. Como tenho amor à minha vida, Mr. Yeats, deixo bem claro que sei que o senhor é irlandês. Mas digo “poesia inglesa” porque está escrita em inglês.
Aproveito para informar quem ainda não sabe — e eu até cinco minutos atrás era um desses — que o nome Yeats se pronuncia de forma a rimar com a palavra inglesa “gates”. Não rima com Keats, não.
Nesta tradução, procurei manter em cada verso o número de sílabas tônicas do original. O primeiro e penúltimo versos de cada estrofe devem ser lidos com quatro tônicas. Os outros, com três. Para comparação, o original está logo abaixo.
E chega de introdução. Vamos ao poema. Pondo-se no lugar de uma mulher, Yeats nos revela um aspecto da feminilidade.

Antes do mundo ser feito
Se eu torno os cílios escuros Os olhos mais brilhantes Os lábios mais vermelhos, Ou pergunto se estou bem A espelho após espelho, Não é vaidade alguma: Estou procurando a face que eu tinha Antes do mundo ser feito. E se eu lançar um olhar a um homem Como a meu amado, Meu sangue estando frio E o coração intato? Por que me achar cruel Ou se sentir traído? Desejo que ele ame a coisa que era Antes do mundo ser feito.
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Se gostou desta tradução do poema de Yeats, confira esta outra de um poema de John Masefield.
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Before the world was made
If I make the lashes dark And the eyes more bright And the lips more scarlet, Or ask if all be right From mirror after mirror, No vanity's displayed: I'm looking for the face I had Before the world was made. What if I look upon a man As though on my beloved, And my blood be cold the while And my heart unmoved? Why should he think me cruel Or that he is betrayed? I'd have him love the thing that was Before the world was made.
Imagem: detalhe do poster do filme Em Algum Lugar do Passado (1980)
Gostei muito.Obrigada!!
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