
Semana passada, vimos neste post as regras para o uso dos homófonos a e à. Hoje, veremos a exceção a essas regras de que tínhamos falado então. Mas antes, façamos uma recapitulação.
Recapitulando
a (preposição) = para, até, com etc. > Indica ação indireta: Vou a um barbeiro.
a (artigo feminino) > define que estamos falando de um objeto/pessoa específica, do gênero feminino: Me passa a manteiga?
à (preposição + artigo feminino) > indica ação indireta do verbo sobre objeto/pessoa específica, do gênero feminino: Vou à padaria.
ao (preposição + artigo masculino) > indica ação do verbo sobre objeto/pessoa específico, de gênero masculino: Vou ao barbeiro.
Duas regras e uma dica
- se o objeto/pessoa é masculino, usa-se ou a (geral) ou ao (específico): Forno a carvão. / Você disse isso ao seu pai
- se o objeto/pessoa é feminino, usa-se a (geral) ou à (específico): Forno a lenha. / Você agradeceu à sua mãe?
Uma dica “de ouvido” (não resolve sempre, mas várias vezes ajuda): se você está com dúvida no caso de um feminino (“forno a lenha” ou “forno à lenha”? “dar a Carolina” ou “dar à Carolina”?) veja como ficaria se fosse um masculino.
- Substitua a palavra feminina por uma masculina que faça sentido na expressão: lenha por gás; Carolina por Fernando
- Veja como fica. Se antes do masculino vier um a, então é a antes do feminino também. Se for ao, então é à antes do feminino: Forno a gás. > Forno a lenha. Dar ao Fernando. > Dar à Carolina.
A exceção
Então; existe uma exceção a essas duas regras, e é muito interessante.
Trata-se do caso de cidades.
Ninguém diz “Vou para a São José.” ou “…para a São Paulo.” Não usamos o artigo a; dizemos “Vou para São José.” ou “…para São Paulo.” Então, se em vez de para usamos a preposição a, dizemos “Vou a São José.” “…a São Paulo.”
Esta é a regra, e funciona para a maior parte das cidades. Você vai a São Paulo, a Londres, a Nova Iorque, a Tóquio, a Verona, a Matagal do Cafundó.
A exceção acontece quando nos referimos a uma cidade como ela é ou era sob um aspecto específico. Nesse caso, usamos sim o artigo a, para mostrar essa especifidade.
Ex.:
A Paris que encontrei na margem esquerda do Sena não diferenciava muito da Paris cheia de vida e espírito pintada em La Bohème.
Oreste Pinto, Contra-Espionagem
(O autor está falando de Paris não como ela é hoje em dia e no seu todo, mas dela como era quando ele foi morar lá, e dela como é representada na ópera La Bohème. Por isso, usa o artigo a, para demonstrar especifidade.)
Outro exemplo: Meu tio diz que a Santos da sua infância já não existe mais.
(Ele se refere à cidade de Santos em uma fase específica, os anos 70.)
Pude conhecer a Londres noturna.
(Refiro-me a Londres sob um aspecto específico, que só existe em determinados locais e horários.)
Agora, se estamos usando o artigo a e vamos usar também a preposição a… Bem, vocês sabem: a + a = à.
Exs.:
Meu tio gostaria de voltar à Santos da sua infância. (= para a Santos…)
Vamos sair à Londres noturna? (= para a Londres…)
Em resumo
Por favor, não vão me dar ocasião de me arrepender por ter lembrado dessa exceção, está bem? Só se usa à antes do nome de uma cidade nos casos raros em que nos referimos a ela sob um aspecto específico.
Se estamos falando da cidade em geral, é sempre a.
Semana que vem vou a São Paulo. Ele tem de ir a Campinas. Fomos a São Francisco. Que tal irmos em lua-de-mel a Buraqueira do Sertão?
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Gostou do post? Ajudou, ou só confundiu mais? Há algum caso em que você ainda não sabe se deve usar a ou à? Conte-nos nos comentários!
Um comentário em “[Dicas de escrita] Quando usar “a” e “à” (parte II)”